quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Na rabeira de uma paixão eu sofri

Na rabeira de uma paixão eu sofri
Logo eu, que nada sei de mim
Nem meus pensamentos
Nem as sensações,
Mesmo tão presentes.

Conheço apenas o que vejo de mim
O dedo, a língua, os pêlos.
Nada sei de amor ou de ódio
Como toda gente o sabe
E conhece suas dores
E seus amores

No dia em que descobri
A mulher amada
Nada fiz.
Porque era-me tudo novo
E sensacional
Como os encantamentos
Que carregam as velhas bruxas

O amor veio-me de repente
E era tão comum a toda gente
Que me desesperei
E chorei.
Chorei e sofri.

Sofri por estar alheio às sensações
Por viver à margem
De todas as sentimentalidades
E de tão tardiamente
Beber o licor agridoce,
Sabor inesquecível da paixão.

(Tico Matos)

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