Pedaços de mim
Reflexos da minha face
Olhos, boca, perfume...
Desespera-me a angustiante escuridão
A espera sem sabor
O beijo que nunca será.
Onde estou, dentro de mim mesmo,
Senão dentro do meu coração?
Coração lugar triste, quente, cheio:
Rancor, amargura, medo, paixão...
Posso sentir meu sangue correr,
Meus pulmões, estômago,
O estalar dos meus dedos.
Mas onde estou verdadeiramente?
Olho no espelho e vejo um estranho
Que vive por aí, dando ares de mim.
Não é meu todo esse amor
Não são minhas as risadas,
Gargalhadas que ele dá.
Agora dorme, apenas dorme, não ronca
Não ronca e não mexe
E não fala, está inerte
Apenas dorme...
Procuro no silêncio
Pedaços de mim
Informações de como sou
Quem sou, onde estou
Nesse quebra-cabeças estilhaçado
Fico o tempo todo aprisionado
Nesse corpo estranho de outrem.
Onde estou meu Deus (talvez gritaria)
Senão dentro do meu coração?
Não sinto dor, mas calor
E vontade de ver o mundo,
Sentir, dançar na chuva
Cantar ou berrar na madrugada.
Olho no espelho e vejo um estranho
Procuro no silêncio
Pedaços de mim
Restos de mim
Haverá nesse mundo alguém,
Apenas um alguém
Que conheça meus olhos,
Meus dedos, cabelos e cotovelos?
Há de aparecer, ao menos, um alguém
Em meio a tantos ninguém
Que saiba, conheça, estabeleça
Algum pedaço de mim
(Tico Matos - 17/12/2008)
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