terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Espelho Quebrado

Procuro no silêncio
Pedaços de mim
Reflexos da minha face
Olhos, boca, perfume...
Desespera-me a angustiante escuridão
A espera sem sabor
O beijo que nunca será.

Onde estou, dentro de mim mesmo,
Senão dentro do meu coração?
Coração lugar triste, quente, cheio:
Rancor, amargura, medo, paixão...

Posso sentir meu sangue correr,
Meus pulmões, estômago,
O estalar dos meus dedos.
Mas onde estou verdadeiramente?

Olho no espelho e vejo um estranho
Que vive por aí, dando ares de mim.
Não é meu todo esse amor

Não são minhas as risadas,
Gargalhadas que ele dá.

Agora dorme, apenas dorme, não ronca
Não ronca e não mexe
E não fala, está inerte
Apenas dorme...

Procuro no silêncio
Pedaços de mim
Informações de como sou
Quem sou, onde estou
Nesse quebra-cabeças estilhaçado

Fico o tempo todo aprisionado
Nesse corpo estranho de outrem.
Onde estou meu Deus (talvez gritaria)
Senão dentro do meu coração?

Não sinto dor, mas calor
E vontade de ver o mundo,
Sentir, dançar na chuva
Cantar ou berrar na madrugada.

Olho no espelho e vejo um estranho
Procuro no silêncio
Pedaços de mim
Restos de mim

Haverá nesse mundo alguém,
Apenas um alguém
Que conheça meus olhos,
Meus dedos, cabelos e cotovelos?

Há de aparecer, ao menos, um alguém
Em meio a tantos ninguém
Que saiba, conheça, estabeleça
Algum pedaço de mim

(Tico Matos - 17/12/2008)

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